Pesquisadores do Ceará desenvolveram um dispositivo inovador para alertar sobre alergias a medicamentos. O equipamento, em formato de pulseira ou colar, emite alertas sonoros, luminosos e textuais para profissionais de saúde, prevenindo erros no atendimento. A tecnologia, que se ativa por aproximação a outro dispositivo com tela, ainda está em fase de desenvolvimento e busca reduzir equívocos nas rotinas hospitalares.
Denominada AlertAlergo, a iniciativa foi viabilizada após aprovação em um edital da CriarCE Hard, aceleradora pública de hardware vinculada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece) do Ceará, em 2023. Recentemente, o projeto recebeu um investimento de R$ 1,4 milhão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com possibilidade de implementação no Sistema Único de Saúde (SUS).
A solução pode beneficiar uma grande parcela da população, já que cerca de 30% dos brasileiros possuem algum tipo de alergia, segundo dados da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI). Em ambiente hospitalar, aproximadamente 16% dos pacientes alérgicos enfrentam complicações, sendo que 84% dessas ocorrências poderiam ser evitadas, conforme explica a médica alergologista Lorena Madeira.
Diante dessa realidade, também está prevista a criação de um botão “Minhas Alergias” na plataforma Meu SUS Digital, permitindo que as informações dos pacientes sejam acessadas de maneira segura e preservando sua privacidade.
“Atualmente, os métodos utilizados envolvem laudos ou carteiras de papel com informações repassadas aos pacientes que tiveram acesso a especialistas em Alergia e Imunologia”, contextualiza a médica. Segundo ela, o medo de receber uma medicação inadequada tem levado muitos pacientes a optarem por tatuagens como forma de advertência.
A gravidade das reações alérgicas pode ser fatal, como no caso de uma idosa alérgica a dipirona que faleceu após receber a medicação na veia, em um hospital no Crato. Certas substâncias podem provocar anafilaxia, caracterizada por sintomas como irritação cutânea e edema de glote, que pode comprometer a respiração e levar à morte em casos extremos.
“Com essa problemática, sentimos a necessidade de desenvolver uma solução mais eficaz e segura para alertar os profissionais de saúde durante o atendimento desses pacientes”, afirma a médica, destacando que o objetivo é criar um dispositivo acessível e fácil de usar, beneficiando também idosos e pessoas com deficiência.
O projeto conta com a colaboração da especialista em Alergia e Imunologia Liana Jucá, da fisioterapeuta e doutora em Ciências Médicas Ingrid Correia e da estudante de Medicina Ludmila Theisen. Além da CriarCE, pesquisadores do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), da Escola de Saúde Pública (ESP/CE) e da Universidade Federal do Ceará (UFC) Campus Quixadá, no Sertão Central, integram o grupo.
Como transformar a ideia em realidade?
A tecnologia cearense está sendo projetada para garantir mais segurança a pacientes alérgicos nas emergências, reduzindo riscos especialmente para aqueles com comorbidades. O dispositivo, que possui um chip resistente à água e bateria com duração de até três anos, é discreto e de fácil manuseio.
“Essa tecnologia consiste em pulseiras e colares que se conectam a um leitor eletrônico, emitindo alertas sonoros, vibratórios, sinais de LED e mensagens escritas para a equipe de saúde”, detalha Lorena Madeira.
O grupo realiza reuniões periódicas com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação para avaliar a integração do sistema ao Meu SUS Digital e a ampliação do uso para populações vulneráveis, como idosos e pessoas com deficiência.
Desafios para a implementação
O coordenador da CriarCE Hard, Thiago Barros, enfatiza que a materialização da ideia exige diversas etapas, incluindo levantamento de requisitos, testes conceituais e validação prévia. O dispositivo passou por experimentação na Escola de Saúde Pública, em um laboratório de simulação realística, sem testes em seres humanos.
“Com a eficácia comprovada, seguimos para a fase de homologacão na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), com previsão de solicitação ainda este ano”, explica Barros. Uma vez aprovado, o projeto avançará para testes em seres humanos antes da industrialização para uso hospitalar.
“Nos hospitais, os profissionais poderão visualizar as informações na bandeja de medicamentos, conectada ao colar ou pulseira do paciente. O sistema funcionaria de maneira similar ao atual processo de acolhimento, em que os pacientes recebem uma pulseira de papel”, compara.
A incorporação de soluções tecnológicas assistivas na saúde promete avanços significativos, como redução de erros, melhoria na gestão de informações médicas e aumento na segurança dos pacientes, agilizando diagnósticos e tratamentos.